Relatório do NIST examina a tecnologia por trás do “hype” do blockchain

O Instituto Nacional de Padrões e Tecnologias (NIST) emitiu um relatório intitulado “Visão Geral sobre a Tecnologia Blockchain.” O relatório, cujo foco é prover uma visão geral de alto nível técnico, discute a fundo sobre a aplicação da referida tecnologia em moedas eletrônicas, tratando ainda de aplicações mais amplas.

“Nós queremos ajudar as pessoas a entenderem com o blockchain funciona, para que elas possam, de forma útil e apropriada, aplica-lo para resolver problemas tecnológicos,” afirmou o cientista da computação Dylan Yaga, funcionário do NIST e um dos autores do relatório. 

“É uma introdução às coisas que você deve entender e pensar sobre, caso queira usar blockchain.”

Segundo Yaga, esta tecnologia é um novo e poderoso paradigma para os negócios.

O fato do relatório ser obra do NIST o torna uma leitura válida. NIST é uma agência não reguladora do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, cujo objetivo é promover inovação e competição industrial, sendo uma importante agência do governo estadunidense com programas como a Nanoscale Science and Technology, Engineering, and Information Technology.

“Desde a grade de energia inteligente e registros eletrônicos de saúde, até relógios atômicos, nanomateriais avançados e chips de computador, inúmeros produtos e serviços dependem de alguma forma das tecnologias, medidas e padrões fornecidos pelo NIST,” ressalta o site da agência.

Desta forma, as recomendações do NIST provavelmente moldam não só o desenvolvimento da tecnologia blockchain no setor privado, como também a adoção e regulamentação do governo estadunidense acerca da mesma.

“Por conta do rápido crescimento do mercado, muitos investidores, clientes e agências solicitaram ao NIST uma descrição aprofundada sobre blockchain, de forma que os novatos do mercado pudesse entrar com o mesmo nível de conhecimento sobre blockchain que os veteranos possuem,” conforme consta na declaração dada à imprensa pelo NIST.

“Nós queremos ajudar as pessoas a enxergarem além do hype,” disse Yaga.

O relatório é um esboço, e está aberto a comentários desde o dia 24 de janeiro, finalizando no dia 23 de fevereiro.

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Os autores ressaltam que muitos esquemas de “dinheiro eletrônico” foram propostos antes do Bitcoin, embora nenhum deles tenha obtido sucesso em serem utilizados em larga escala.

Bitcoin conseguiu capacidades atraentes e uso em larga escala porque a tecnologia blockchain permitiu o “dinheiro eletrônico” a ser implementado de uma forma distribuída, sem possuir entidades por trás de seu controle, ou falhas pontuais. Outras tecnologias blockchain tratadas explicitamente no relatório são Ethereum, Litecoin, DASH, Multichain, Ripple e Hyperledger.

Segundo os autores, organizações financeiras são as mais propensas a serem impactadas por esta nova tecnologia, e precisarão se adaptar, ou até mesmo mudar todas as suas práticas. Contudo, aplicações sem vieses financeiros podem se provar ainda mais importantes.

Ethereum, com seus smart contracts programáveis capazes de realizar cálculos e armazenar informação, é considerado um “capacitador” das aplicações não financeiras com base em blockchain da próxima geração. Por exemplo, pesquisadores do NIST criaram smart contracts que geram publicamente números aleatórios confiáveis.

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O relatório faz menção ainda a várias aplicações não financeiras envolvendo blockchain, incluindo transações autônomas de máquina para máquina; construções inteligentes que, de forma autônoma, trocam excessos de energia renovável; registros públicos de escrituras de imóveis, certidões de casamento e certidões de nascimento; monitoramento e administração de cadeia de fornecedores; sistemas de identificação; e serviços digitais de tabelionato.

No documento consta ainda que computadores quânticos, que podem ser desenvolvidos em um futuro próximo, serão capazes de enfraquecer (e, em alguns casos, tornar inúteis) algorítimos existentes de criptografia. Isso pode gerar uma necessidade de mudar, ou atualizar, a tecnologia criptográfica usada atualmente nos sistemas de blockchain.

Através do relatório, é fornecida uma base, extraída do relatório do NIST de 2016, intitulado “Criptografia pós-quântica”, que descreve o impacto da computação quântica nos algorítimos utilizados em criptografia comum. Em suma, RSA, ECDSA e ECDH, e DSA deixarão de ser considerados seguros. AES, SHA-2 e SHA-3 deverão usar senhas maiores, bem como output maiores.

“Blockchain tem o poder de fender inúmeras indústrias,” concluem os autores do NIST. “Para evitar perder oportunidades e ter surpresas desagradáveis, organizações deveriam começar a investigar se blockchain pode ou não ajuda-las.”

Entretanto, o relatório alerta que atualizar um sistema tecnológico com usuários distribuídos ao redor do mundo, governados pelo consenso dos mesmos, pode ser tornar algo extremamente difícil. O fato de que algo registrado em um blockchain geralmente permanece lá para sempre, mesmo que seja um erro, pode ser uma característica desejada por algumas companhias, mas um sério problema para outras.

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Fonte: Bitcoin Magazine

Edição: Webitcoin